Existem poucas coisas capazes de me tirar do sério. Isto querendo dizer que existem poucas coisas capazes de me irritar ao ponto de querer ter um exército de Stormtroopers ao meu dispor. 

Sabem que uso muito a palavra sociedade, "a sociedade isto", "a sociedade aquilo", o problema é que me esqueço que a distância que ponho entre mim e a sociedade não é real. Somos um só, fazemos parte um do outro. Quero sempre colocar distância entre aquilo que me faz triste e o meu bom-humor. Não gosto de fazer parte desta sociedade. Sociedade que sou eu. Nada me fez tão triste como os dez minutos que tive que esperar pelo autocarro, hoje, para vir para casa. 

Eu sei, "o que diabos está ela a falar, agora?!"...Nada me faz ficar mais irritada, triste e desapontada com a sociedade do que ver alguém com uma certa idade, que pensas que deveria ter um certo grau de sensatez e inteligência, mas que no final mostra ser a definição de 'sociedade actual', que consta no meu vocabulário, dirigir-se a um miúdo de treze anos e dizer-lhe que deve parar de comer porcarias, que deve parar de comer massa, de beber Coca-Cola, sumos, em geral, que deve começar a comer fruta e legumes todos os dias e que em dois meses perderá dez quilos. 

Todos têm aquela amiga ou amigo que sempre se sentiu mal no próprio corpo. Ou então vocês próprios. Eu tenho, sempre tive. E, apesar de ter uma boa auto-estima, às vezes tenho dias maus, mas depois lembro-me que sou awesometacular e isso passa. Mas temos sempre aquele amigo a quem dizemos "Não! Claro que não és feio! És uma das pessoas mais bonitas que conheço.". Isto porque é verdade, não só por serem nosso amigos, mas porque é verdade, são bonitos, não precisam de perder barriga, de ganhar músculo, não precisam de mudar. 

Nada me deixa mais furiosa do que gentinha reles que acha que a vida das outras pessoas lhe pertence por direito, que devem meter o bedelho, dar opiniões, dizer isto e aquilo, porque "Aih, vais ficar com menos riscos cardíacos, não vais ter problemas em acompanhar os teus amigos".  

Tento sempre dizer às pessoas de quem gosto o quanto gosto e me importo com elas. Não porque quero que digam, "Awe, és tão querida", mas porque é o que sinto, porque às vezes ajuda a suportar o dia. Porque simplesmente gosto de ser simpática e de ajudar. Se calhar é um problema, mas faz-me sentir bem com o mundo.

Podia entrar em números: número de suicídios em adolescentes, número de bulimias, número de anorexias, número de cortes por pulso, número de noites passadas a chorar, número de vezes que odiamos ver aquela pessoa no espelho, número de vezes que adormecemos a rezar para não acordar...mas são só números, ninguém liga a números, não são reais, não os podem ouvir a chorar, nem a falar, nem a sangrar. São números. Toda a gente odeia números.

E toda a gente finge interessar-se por esta morte, por aquela depressão e perguntam-se porquê. Uma pergunta retórica, ninguém espera uma resposta. Mas eu dou-lhes. Todos os dias. "Por vossa causa. Por nossa causa.". E chamam-me maluca, dizem que estou errada. Chamam-lhes fracos, dizem que deviam ter lutado. 

Não. Eles lutaram, vocês deixaram-nos ir. Deixaram-nos sozinhos.

"És uma exagerada, Diana." Sou? Nos dias de hoje, nada do que digo parece exagero. São crianças, treze anos. "Não comas massa, não bebas coca-cola.", "Em dois meses emagreces dez quilos.". 

Não só me entristeceu, mas magoou-me. Porque toda a gente é ignorante, porque ninguém quer saber, não na verdade. Ninguém se interessa. 

É possível que tenha rabiscado um bilhete e lhe tenha entregue. Porque melhor que estas palavras são as acções. 

Não sei como ele reagiu, não sei se me achou intrometida, maluca, se achou que não sabia do que estava a falar. Não sei. Só sei que me senti melhor, que tinha anulado as barbaridades que saíram pela boca daquele senhor horroroso, que tinha tentado fazer o dia melhor, para mim e para ele. Porque toda a gente vai julgar quer sejas gordo, magro, alto ou baixo. Porque deves ser tu próprio, deves ser feliz e ignorar tudo o resto.

E foi exactamente isso que lhe disse.